Ao estabelecer uma visão ampla da questão do mal Schelling fundamenta seu conceito de liberdade e prepara o caminho para sua compreensão em vista do projeto maior de sua filosofia que é o da realização da integração primordial.
[...]Essa nostalgia não é o próprio Uno mas se apresenta igualmente eterna. Ela quer engendrar a deus, ou seja, a unidade infundável, embora nela mesma não se encontre a unidade (SCHELLING, 1990, p. 40).
A unidade é essencial para a realização da pessoa humana. Desse modo, o conceito de liberdade em Schelling extrapola o sentido individual e busca as raias da integração entre a esfera do finito e a esfera do infinito. Ser livre, portanto, desponta sob o sentido de pertença e não pelo viés da posse. O sujeito não detém a liberdade, mas pertence a ela. Trata-se da condição acima das diferenças e das escolhas. É uma espécie de liberdade ontológica na qual a oposição é substituída pela totalidade, isto é, na qual humano e divino se pertencem mutuamente.
A liberdade posta como condição à qual o ser humano pertence pode soar demasiado pedante e perigoso aos ouvidos da contemporaneidade. E isso se deve menos ao absurdo da definição de Schelling e mais pela tendência de se tomar liberdade como auto-afirmação do sujeito com relação a si mesmo num movimento de total indiferença com relação a tudo o que escapa dos limites da própria individualidade . A liberdade em Schelling resgata a dimensão da interação com os outros e com o todo . O sujeito livre não é aquele que se auto-determina egoisticamente, mas que assume sua relação com a totalidade . O finito e o infinito são , assim , tratados como instâncias complementares e não opostos . O homem é convidado por Schelling a reconhecer-se mais do que um ser de escolhas e compreender-se como ser de projetos e possibilidade globais .
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