quarta-feira, maio 20

III CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA E HUMANIDADES


O azul translúcido das águas mediterrâneas, ora esculpindo os paredões de rocha ruidosamente, ora repousando suas franjas no dorso de areia das praias atenienses, contrastando imensidão e proximidade crivou de pasmo o espírito de Platão, inspirando-o. Os jardins abertos e convidativos, miserável de limites, porém pródigo em horizontes e delícias perpassa cada palavra de Epicuro. A frondosa oliveira que, do alto da colina, guardava a antiga cidade de Tagaste, velou pelo sono e embalou a contemplação perene de Agostinho. O pequeno crucifixo, o claustro simples, quase acanhado em Monte Cassino, cuja humildade fecundou a grandiosa reflexão de Tomás de Aquino. A natureza italiana exuberante de unidade e mística, exibindo-se aos olhos do jovem Giordano Bruno, cujo corpo, anos mais tarde, provará da indiferente voracidade das chamas. A pacata Königsberg na qual Kant passou toda a sua vida e erigiu seu monumental e pontual sistema. A Europa incandescente de chaminés, fábricas e revoluções de Marx. A dionisíaca e solar Turim que Nietzsche tanto amou. O céu em ímpetos de liberdade da Argélia de Camus. Os bosques nebulosos e negros do auto-exílio de Heidegger... A Filosofia tem seus cenários. O pensamento calca seus pés e assume o matiz típico de seus territórios natais.

Por dois anos o território de nosso Congresso de Filosofia foi São Thomé das Letras. Suas pedras, suas lendas, seus caminhos íngremes e vielas tortuosas, seus morros apaixonados pelos vales e pelas estrelas que tantos encontros e idéias nos proporcionaram agora se despendem de nós. Afinal, há mais espaços a serem explorados e a razão andarilha, a têmpera nômade do pensar, sempre sedento e inquieto, nos conclama a caminhar. Nosso ethos, nossa morada agora será o Distrito de São Francisco Xavier, pertencente a cidade de São José dos Campos/SP. Dirigimos-nos para filosofar acima das nuvens, em meios aos encantos da Serra da Mantiqueira, nesta localidade hospitaleira que já abriga um dos principais eventos literários do país, o Festival da Mantiqueira. Em meio às montanhas, acalentados pela serração que desce célere as colinas pela manhã, embalados pelas águas cristalinas dos rios que cortam essa bela e singela jóia chamada São Francisco Xavier, realizaremos o nosso III Congresso Nacional de Filosofia e Humanidades, mantendo o espírito primordial de realizar um evento aberto e criterioso, porém agora inspirados por novos ares, a exemplo dos mestres que nos chamam à contemplação e ao enfrentamento.