domingo, janeiro 30

Mubarak: Um ditador querido pelos Estados Unidos da América




Caros amigos de boa companhia!

Há alguns dias perdi totalmente o contato com um grande amigo egípcio, Ahmed Wagdy, da cidade de Gizé, no Egito, por isso resolvi escrever o texto abaixo e achei interessante partilhar com vocês.


Mubarak: Um ditador querido pelos Estados Unidos da América

"Mubarak fora, o Islã dentro!"Esse é grito que se ouve no mundo árabe, ao menos o mundo árabe genuíno, aqueles que são contra os sucessivos mandos e desmandos do poderio norte-americano e a loucura do sionismo tacanho israelense. "Mubarak é um traidor e um agente americano", gritavam os manifestantes.

Contraditório é pensar que a forte nação militar das Américas, que sempre se declarou totalmente contra qualquer forma de poder ditatorial, é só constatar a eterna tensão entre EUA e países como Cuba e Venezuela. Agora mostra, o que antes era velado, total apoio a Mubarak, um Fidel Castro ou Hugo Chavez se preferirem às avessas.

Sob a ótica do imediatismo isso pode parecer mais uma das grandes contradições da história. Mas numa analise mais aprofundada, que fuja de um jornalismo que prima pelo senso comum, e mergulhe num estudo político de fato, poderemos compreender melhor o que esta se passando no mundo árabe nesse momento da história.

Os Estados Unidos e Europa temem que essa crise se alastre por todo o mundo árabe. Começou com a queda do ditador da Tunísia, invadiu o Egito, chegou ao Iêmen e já sacode a Jordânia. A diferença é que, enquanto a paradisíaca Tunísia é um lindo país de 10 milhões de habitantes no norte da África, pertinho da Europa, o Egito é um país poderoso, militarizado, o líder árabe. Além disso, dos 22 países da Liga Árabe, só dois mantêm relações com o vizinho Israel: justamente o Egito e a Jordânia. E Israel é o principal aliado norte-americano no Oriente Médio.

O Governo norte-americano já perdeu o Irã há tempos e hoje tenta mobilizar o mundo contra o regime dos aiatolás, para colocar outros “aiatolás”, que sejam aliados da Casa Branca, no governo desse majestoso país de origem persa. Agora não pode correr o risco de perder o apoio do Egito e da Jordânia, principalmente para regimes religiosos “extremistas” que vão contra o neoliberalismo, o grande deus da economia (ou seria religião?) capitalista.

Contudo, nesses últimos dias, os "imans" (sacerdotes muçulmanos) se rebelaram contra a censura prévia do governo e convocaram a população a aderir às manifestações na sexta-feira, dia nacional de preces, Pronto! O Egito pegou fogo... e com ele todo o mundo árabe!

As pessoas saíram das mesquitas e foram às ruas, e a rebelião deixou de ser restrita a jovens e à classe média com acesso à internet e tomou conta da capital e de todas as outras sete grandes cidades egípcias: Suez, Alexandria, Port Said, Ismailia, Assiut e Sohag. Mubarak reagiu duramente, jogando militares e tanques nas ruas, mas não adiantou. 

Agora o Governo proíbe a emissora de TV Al Jazeera de operar no Egito, com base no Qatar, a emissora tem sucursais em todo o mundo, com correspondentes inclusive no Brasil, e transmite notícias em árabe e inglês.
Segundo um comunicado da rede, o Egito suspendeu suas atividades no país e retirou as permissões oficiais de todos os correspondentes que cobriam os protestos que exigem a saída do ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no comando.

O que a imprensa mundial não revela declaradamente, em letras garrafais, é que não se trata de um processo de troca de poder de um extremismo para outro extremismo. O que temos no Egito agora é a luta de um povo que pede eleições antecipadas, que não é alienado a ponto de acreditar que a decisão de Hosni Mubarak de apontar Suleiman, seu chefe de Inteligência e confidente, como provável sucessor, seria uma avanço democrático.

O povo egípcio que hoje literalmente derrama seu sangue nas principais cidades por onde, na antiguidade, reinaram os faraós, pede por liberdade, por autonomia, por participação na vida política do país, por ter o direito de pertencer, apoiar e se unir ao mundo árabe. Longe de interferências externas, de povos, que de longe, em nada querem colaborar para a melhoria de vida de um país que ainda conta com 40 milhões de pessoas abaixo da linha da miséria, com salários de até US$ 30 por mês, e com um índice de 40% de analfabetos.


Nota: Até o presente momento 102 mortos e milhares de feridos nas manifestações.

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