domingo, janeiro 21

I CONGRESSO DE FILOSOFIA EM SÃO THOMÉ


Zeus volta a ser adorado na Grécia 1.600 anos depois


Levou mais de 1.600 anos, mas o antigo deus grego Zeus voltou a ser adorado, no melhor estilo pagão, por um pequeno grupo de fiéis, neste domingo, num antigo tempo do coração de Atenas, na Grécia. Esta é a primeira cerimônia do tipo registrada no templo de 1.800 anos de Zeus Olímpico desde que a religião pagã foi proibida pelo Império Romano, no final do século IV.
Cerca de 200 pessoas participaram da cerimônia, organizada pela Ellinais, um grupo ateniense que luta para trazer de volta a velha religião. O grupo desafiou uma norma do Ministério da Cultura, que proibiu o acesso à área, no centro de Atenas.
Os adoradores, vestindo fantasias que evocam trajes do passado, recitaram hinos pedindo que Zeus, "rei dos deuses e movedor das coisas", trouxesse paz ao mundo.
"Nossa mensagem é de paz mundial e um modo de vida ecológico, no qual todos têm direito à educação", disse Kostas Stathopoulos, um dos três sacerdotes que supervisionaram o evento, uma celebração do casamento entre Zeus e Hera, a deusa do matrimônio.
A Ellinais, que tem 34 membros registrados, já venceu uma batalha judicial para que a antiga religião grega fosse reconhecida pelo governo. Agora, o grupo quer que a sede seja declarada como local de culto - decisão que poderia permitir aos sacerdotes dos deuses antigos realizar casamentos e outros serviços. (fonte: www.yahoo.com.br)

sexta-feira, janeiro 19

Genes contribuem com inclinação religiosa

da Folha Online
Os genes podem ajudar a determinar de qual religiãouma pessoa será. É o que diz um novo estudo feito nosEstados Unidos. E os efeitos dessa tendência religiosapodem sumir com o tempo, publicou a revista "NemScientist". Até 25 anos atrás, os cientistas diziam que ocomportamento religioso era produto da socialização ouda criação da pessoa. Mas estudos recentes, incluindoeste, realizado com gêmeos adultos que foram criadosseparadamente, sugerem que os genes contribuem emcerca de 40% na religiosidade de uma pessoa. Mas não está claro como essa contribuição muda com osanos. Alguns estudos com crianças e adolescentes --compais biológicos ou adotivos-- mostram que eles tendema espelhar as crenças e comportamentos religiosos dospais com que vivem. O que mostra que os genes têm umpapel pequeno nessa idade. Agora, pesquisadores liderados por Laura Koenig, umapsicóloga da Universidade de Minnesota tenta mostrarcomo os efeitos da natureza e da criação mudam com osanos. Seu estudo sugere que, quando o adolescente vaise tornando adulto, os fatores genéticos tornam-semais importantes na determinação de qual religião apessoa vai seguir que fatores relativos ao meio . O grupo aplicou questionários em 169 pares de gêmeosidênticos (100% iguais geneticamente) e 104 pares degêmeos bivitelinos (com 50% de identidade genética),nascidos em Minnesota. Os gêmeos, todos homens com cerca de 30 anos, foramquestionados acerca de seus hábitos religiosos atuaise as respostas foram comparadas à suas práticasreligiosas da época em que viviam com seus pais.
Revista Galileu: Os genes de Deus Raízes biológicas explicam de onde vem a inclinaçãohumana para a religiosidade e como o cérebroexperimenta a transcendência Camila Artoni Crescimento de 7,5% ao ano das igrejas evangélicasbrasileiras, um milhão de católicos presentes aovelório do papa João Paulo II no Vaticano, conversõesem massa, na Índia, ao hinduísmo: o que esses eventostêm em comum? Dizer "Deus" é apostar em uma respostaarriscada. Se existe um deus, ou vários, ou não, é umdado que a ciência ainda não é capaz de provar, talveznunca seja. Mas por que cremos é algo que já pode sermais bem compreendido. E trabalhos recentes afirmamque as bases da fé estão nos nossos instintosprimitivos, como a nossa tendência natural a comermais do que precisamos, nossa preferência porparceiros fortes e saudáveis para a reprodução e anossa capacidade de ser feliz (ou a falta dela). Até um quarto de século atrás, os cientistasacreditavam que o comportamento religioso era produtoda socialização ou da educação recebida em casa. Não éo que diz a pesquisa de Laura Koenig, psicólogaamericana da Universidade de Minnesota, que acaba dedivulgar o resultado de seus estudos com gêmeos. Emseu relatório, Koenig atribui ao DNA cerca de 40% departicipação no nível de religiosidade de uma pessoa.É um número que impressiona. Para se ter umacomparação, sabe-se que os genes são responsáveis por27% dos casos de câncer de mama, por exemplo. Mais de 250 pares de gêmeos, idênticos enão-idênticos, responderam a perguntas sobre afreqüência de serviços religiosos, orações ediscussões teológicas em suas vidas. Dados sobre paise outros irmãos também foram coletados. Conclusão:quando eram mais novos e conviviam mais com outrosmembros da família, todos tendiam a ter um nível deespiritualidade semelhante, demonstrando forteinfluência do ambiente na decisão; na idade adulta,somente os univitelinos (que têm carga genética 100%igual) continuavam compartilhando os mesmos índices."Quando os filhos saem de casa e entram nauniversidade ou no trabalho, a interferência dos paiscomeça a enfraquecer", diz a pesquisadora. "Nesseponto, temos de tomar as nossas próprias decisões e abiologia passa a falar mais alto." Em suma: sejamoscrentes ou céticos, a "culpa", em grande parte, é danossa genética. A idéia de um "gene de Deus" refere-se ao componenteinato do homem para a espiritualidade. Não significaque exista um gene que faça com que as pessoasacreditem em Deus, e sim que a predisposição a serespiritual (seja seguir preceitos religiosos fechados,acreditar na existência de um ser superior ou buscaruma origem esotérica para o mundo) é herdada por nósgeneticamente. O trabalho de Koenig não é o primeiro a fazer essaproposição. Ano passado, Dean Hamer publicou "The GodGene", livro em que explica como a fé está fortementeconectada ao nosso DNA. Chefe do laboratório debioquímica do Instituto Nacional do Câncer dos EUA,Hamer foi ainda mais longe e deu nome aos bois. Eleafirma que pelo menos um gene específico é responsávelpelo controle das substâncias envolvidas na emoção ena consciência religiosas. Fortes porque crêem É preciso ter cautela aqui. O VMAT2, como é chamado ogene, pode ser importante, mas certamente não respondesozinho pelo funcionamento de algo tão complexo. "Nãohá um gene para a religiosidade", diz Laura Koenig. "Oefeito genético está relacionado, na verdade, aosgenes que influenciam a personalidade. É isso que fazcom que algumas pessoas sejam mais propensas aacreditar em religiões do que outras." Se a religiosidade está mesmo sob influência dagenética, fica implícito que esse traço foiselecionado durante o processo evolutivo. O que nosleva a crer que, provavelmente, trouxe vantagensadaptativas para os primeiros crentes. Algumasdescobertas sugerem quais podem ter sido. Sabe-se quea espiritualidade já foi associada, por exemplo, com ocomportamento altruísta, e a falta dela com índicesmaiores de criminalidade. No plano físico, estudosdemonstram que o otimismo promovido pela fé estárelacionado a uma saúde mais forte, avaliada pelamenor incidência de derrames e enfermidades cardíacas.As taxas de abuso de drogas, alcoolismo, divórcio esuicídio são muito mais baixas entre os religiosos,que também sofrem menos de depressão e ansiedade doque a população em geral, e quando sofrem se recuperammais rápido. Com certeza, traços que ajudaram nossosantepassados a viver mais. Hamer admite que há provavelmente dezenas de outrosgenes, ainda por serem identificados, que desempenhampapéis na capacidade de ser religioso. Mas a origemgenética, insiste, é inegável. Para ele, só umainclinação biológica para a espiritualidade poderiaexplicar o número cada vez maior de adeptos de seitasnão-tradicionais e a presença de centenas de religiõesno mundo inteiro. De fato, a religiosidade faz parteda experiência humana desde sempre. Mais de 30 milanos atrás, nossos ancestrais já pintavam em suascavernas imagens de sacerdotes e feiticeiros. Ao longodos tempos, as fés institucionalizadas e tribais seespalharam de tal forma que não há lugar algum noglobo que escape das estatísticas. Só que o conceito da espiritualidade inata está longede ser consenso. A própria psicologia bate o pé contraisso. Mesmo reconhecendo que os genes possam serdominantes sobre o comportamento, o papel do ambientenão deixa de ser importante. A pesquisadora daUniversidade de Minnesota ressalta esse ponto."Influências do meio continuam tendo alto impactosobre a religiosidade. Os indivíduos de umadeterminada cultura podem ser extremamente observantespor razões culturais, as pequenas variações no nívelde religiosidade entre eles é que se explicam pelagenética", explica Koenig. Essa força universal também foi explicada por outraárea do conhecimento, a psicologia analítica,introduzida pelo psiquiatra suíço Carl Jung(1875-1961). Segundo sua teoria dos arquétipos(conteúdos simbólicos da mente, compartilhados portoda a humanidade), a busca por Deus - ou pelaplenitude, ou por si mesmo - é um elemento básico dapsique humana. Por dentro do cérebro que crê Como a meditação e as orações mexem com a nossaestrutura interna Lobo Frontal - É a parte mais desenvolvida do cérebro,responsável pela concentração, pelas emoções e pelaautoconsciência. Atividade fica acelerada Tálamo - O controlador dos nossos sentidos, esse órgãofoca a nossa atenção pela forma como armazenarinformações coletadas. A meditação reduz o fluxo desinais Lobo Parietal - Região que processa informaçõessensoriais sobre o mundo ao redor, orientando-nos notempo e no espaço. Atividade fica reduzida Formação Reticular - Como sentinela do cérebro, essaestrutura recebe os estímulos que chegam e nos põem emalerta. Estados alterados de consciência o amortizam Experiência universal Em termos religiosos e espirituais, é como se anecessidade de encontrar um sentido místico para avida estivesse impressa na nossa alma. Pessoas que nãosão capazes de crer estariam desconectadas dessanecessidade primordial. Enquanto as ciências humanas explicam a fé como umprocesso cognitivo, a abordagem neurológica vai emoutra direção. Andrew Newberg, da Universidade daPensilvânia, decidiu olhar para os rastros daespiritualidade no cérebro. Usando imageamentocerebral, ele pôde ver de perto o que acontece quandoalguém medita ou reza. Medindo o fluxo da correntesanguínea dos voluntários, avaliou que áreas eramresponsáveis pela sensação de transcendência. Quanto mais fundo as pessoas vão na prática, descobriuNewberg, mais ativos ficam o lobo frontal e o sistemalímbico. O primeiro é onde se localiza nossacapacidade de concentração e atenção; o segundo é ondesentimentos poderosos, inclusive o êxtase religioso,são processados. Ao mesmo tempo, a região que controlanossas noções de tempo e espaço fica entorpecida. Acombinação desses efeitos é uma experiência espiritualriquíssima. "Deus não é resultado de um processo deraciocínio", diz o neurocientista. "Ele foi descobertomisticamente, pelo próprio maquinário cerebral. Ohomem não inventou Deus, o experimentou." Estágios da fé Genes à parte, a espiritualidade não tem um botão quepode ser ligado e desligado, e uma tendência a crernão significa garantia de vida religiosa estávelfeliz. De acordo com o professor de teologia JamesFowler, o desenvolvimento dessa área da vida segue opadrão de qualquer outro processo psicológico humano,ou seja, acontece por fases. A jornada religiosacompleta começaria na infância, a partir de um estágioem que vemos o mundo como mágico, e seguiria até umasexta etapa, em que o crente é um místico capaz deexperimentar um profundo senso de unidade com ouniverso. E Deus nessa história? A maioria dos teólogos recusa-se a aceitar que aexperiência de Deus seja reduzida a reações químicasno cérebro. Em geral, as religiões preferem a idéia deuma revelação vinda "de cima". Para a ciência, acomprovação de uma origem genética para a fé e omapeamento da crença no cérebro não dizem nada sobre aexistência de Deus. As pesquisas apenas explicam porque há diferentes graus de envolvimento religiosoentre as pessoas e que tipo de elevação provam aquelesque crêem. Mas tudo isso pode, ainda, ser invenção de Deus. Háquem defenda até que os genes façam parte dosofisticado projeto divino para a humanidade. Enquantoas origens e os efeitos da religiosidade podem sermedidos pela ciência, a existência de Deus, só pelafé. Mas isso não significa ter de mantê-las separadas.Como bem apontou Albert Einstein, a ciência semreligião é manca e a religião sem ciência é cega. Para ler • "The God Gene", Dean Hamer. Doubleday. 2004 • "Why God Won't Go Away", Andrew Newberg. Ballantine.2002 • "Religion Explained", Pascal Boyer. Basic Books.2001 http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT954012-2989-1,00.html

quinta-feira, janeiro 18

OS RUMOS DO MERCOSUL

Por Julio César Villaverde
RIO DE JANEIRO (Reuters)
O estremecido Mercosul enfrenta nesta semana importantes desafios para fazer frente a persistentes ameaças à sua unidade e ao caminho traçado quando começou a funcionar, há mais de uma década.Diferenças entre dois sócios levadas ao tribunal de Haia, medidas polêmicas anunciadas por seu membro mais recente e questionado, a Venezuela, e o possível ingresso da Bolívia como membro pleno são alguns dos desafios.A estas dificuldades soma-se a batalha do presidente venezuelano, Hugo Chávez, para dar um perfil mais ideológico ao Mercosul --que seria reforçado com a chegada de seu colega boliviano, Evo Morales--, e o crescente desencanto do Paraguai e do Uruguai, os menores membros do bloco.Ao Brasil, como sócio maior, caberia a responsabilidade de lidar com tais conflitos e exercer sua liderança natural para proteger a união aduaneira, algo que inclusive lhe foi pedido pelo Uruguai."Realmente o estado de ânimo do Mercosul tem sido um pouco beligerante nos últimos dias", disse à Reuters o diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, ao ressaltar esses antecedentes.O bloco --que é composto por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela-- realizará uma reunião de cúpula na sexta-feira, em um luxuoso hotel do Rio de Janeiro, na qual poderão ser abordados os desafios aos rumos da união aduaneira, estabelecida em janeiro de 1995.O encontro será precedido na quinta-feira por uma reunião para a qual, além dos chefes de governo do Mercosul, foram convidados os dos países associados --Bolívia, Chile, Equador, Colômbia e Peru--, e do Panamá, Suriname e Guiana.
BLOCO ECONÔMICO OU IDEOLÓGICO?
Na quinta-feira, também se reunirão os ministros de Relações Exteriores e de Economia do Mercosul, que, segundo a agenda, discutirão medidas para aliviar os efeitos negativos das assimetrias dos sócios, que afetam, sobretudo, Paraguai e Uruguai.Os dois países se mostraram descontentes com o bloco e insinuaram que poderiam abandoná-lo se lhes fosse permitido firmar acordos de comércio extra-regionais, algo vedado pelo bloco.A reunião ministerial, no marco do chamado Conselho do Mercado Comum (CMC), também analisará uma carta de Morales propondo que a Bolívia integre o bloco como membro pleno.A aceitação ao pedido de Morales, um amigo e sócio de Chávez, aumentaria a influência do líder venezuelano, que tomou posse para um terceiro mandato na semana passada prometendo levar seu país ao socialismo, inclusive com a entrega de sua vida.Também se espera que outro socialista declarado e amigo de Chávez, o novo mandatário do Equador, Rafael Correa, peça o ingresso de seu país como membro pleno do Mercosul.Para alguns analistas, esses não são bons ventos para o bloco e desafiam em particular a Lula, que segue uma linha de centro-esquerda que equilibra uma política econômica ortodoxa com medidas de ajuda aos mais pobres."A entrada da Venezuela no Mercosul (em julho), se for analisada economicamente, é bem-vinda. Politicamente é que se gera uma certa insegurança", disse Castro."Meu receio é que o Mercosul seja transformado em um bloco ideológico e não econômico... a eventual vinda do Equador e da Bolívia neste momento seria ideológica e não econômica", acrescentou.Para ele, o Brasil, como líder regional, deve dar o exemplo e tomar decisões dizendo "exatamente se o Mercosul é um bloco econômico, um bloco político ou um bloco ideológico", complementou.
IRMÃOS EM LITÍGIO Além disso, a reunião de cúpula verá a Argentina e o Uruguai em litígio na Corte Internacional de Haia pela construção de uma fábrica de celulose em território uruguaio, sobre o limítrofe rio Uruguai, que enfrenta resistência argentina por seu possível efeito negativo sobre o meio ambiente.Pouco antes da reunião, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, deixou em evidência a tensão das relações, inédita para países vizinhos e com uma raiz histórica comum."Encontrar-nos, nós vamos, porque estaremos no mesmo ambiente. Não está marcado nenhum encontro bilateral", disse friamente Vázquez sobre uma eventual reunião no Rio de Janeiro com seu colega argentino Néstor Kirchner.O Mercosul e o próprio Brasil se mostraram omissos no caso, expondo limitações no sistema jurídico do bloco e na liderança do maior sócio.O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse recentemente que seu país se absteria de fazer uma mediação entre Argentina e Uruguai, indicando que "devem falar (entre) eles" para buscar uma solução às suas diferenças.
[meu comentário]Na verdade existe um outro dado que deixa essa reportagem com um certo receio do novo mercosul. Um dos assuntos em pauta, que não está mencionado no texto acima, é a criação do Banco Sul, o qual substituiria instituições internacionais como o FMI. Acompanhem as várias fontes sobre o assunto durante a semana.

segunda-feira, janeiro 15

Uma novo horizonte latino-americano com a posse de Rafael Correa


Enquanto analistas políticos equatorianos ainda têm dúvidas em relação à tendência que será adotada pelo novo presidente do país, Rafael Correa, que toma posse nesta segunda-feira em Quito, ele próprio demonstrou se sentir muito à vontade com a linha anti-EUA e de nacionalização de seus colegas da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales.
Os três passaram o domingo juntos no Equador, onde Morales e Chávez acompanham a cerimônia desta segunda, e mostraram porque são considerados os mais radicais representantes da esquerda que consolida seu crescimento na América Latina. Ao tomar posse simbólica na comunidade indígena Zumbahua, na província de Cotopaxi, Correa reafirmou seu discurso contra o neoliberalismo e, assim como Chávez, exaltou a “nova esquerda do continente”.
"Como um milagre foram derrubados os governos servis, as democracias de papel, o modelo neoliberal, e começou a surgir a América Latina altiva, livre, soberana, justa e socialista do século XXI. O servilismo, o entreguismo estão sendo jogados na lata de lixo da história", disse Correa.
Correa, Morales e Chávez usaram ponchos de lã de ovelha confeccionados pelos indígenas Zumbahua, comunidade na qual o presidente equatoriano trabalhou na juventude como voluntário da ordem salesiana. Em seu discurso, Chávez pregou a integração latino-americana e defendeu um bloco econômico “bolivariano” como alternativa à Alca, a área de livre comércio proposta pelos EUA.
"A Alca pode ir para o inferno. O imperialismo americano precisa cair, a América Latina precisa se unir", disse Chávez, afirmando que agora a esquerda “ressuscitou no continente” e chamando Correa de líder comprometido com o povo pobre do Equador e com a união latino-americana.
Assim como Chávez, que assustou investidores internacionais na semana passada ao afirmar que nacionalizará os setores energético e elétrico, Correa promete rever todos os contratos das empresas petrolíferas estrangeiras que operam no Equador e prometeu suspender os pagamentos da dívida externa do país caso não consiga negociar melhores condições.
O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, aparentemente também seguindo Chávez e Morales, anunciou que seu governo tomará os terminais de armazenamento de petróleo das empresas estrangeiras. Zelaya disse que a ação é apenas temporária.
Secretário de Comércio dos EUA e representante do presidente George W. Bush na posse, Carlos Gutierrez disse, em sua chegada a Quito, que não espera qualquer problema entre os dois países: "Somos amigos há muito anos e esperamos ter uma amizade com benefícios mútuos por muitos anos".
Assim como Morales na Bolívia, Correa quer mudar a Constituição e, para isso, um de seus primeiros atos será a convocação de uma consulta popular sobre a Assembléia Constituinte, que enfrenta forte resistência no Congresso. Desde a campanha eleitoral, Correa faz fortes críticas à Constituição do Equador — que classificou de incoerente, contraditória e neoliberal — e ao Congresso.
A posse do oitavo presidente equatoriano desde a redemocratização, em 1979, atraiu autoridades latino-americanas, européias e árabes. Além de Chávez e Evo, participarão da posse, o príncipe das Astúrias, Felipe de Borbón; a presidente do Chile, Michele Bachelet; os presidentes de Peru, Alan García; Paraguai, Nicanor Duarte; Colômbia, Alvaro Uribe; e Nicarágua, Daniel Ortega. E representantes de Cuba, Costa Rica e Argélia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje pela manhã a Quito.
Apesar da presença de chefes de Estado amigos de Correa, como Lula, Evo e Chávez, o que causa mais polêmica no Equador é a presença do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. A comunidade judaica em Quito protestou contra a presença de Ahmadinejad, que prega a destruição de Israel e disse que o Holocausto é um mito. A participação do iraniano na posse seria o motivo da ausência do presidente da Argentina, Néstor Kirchner — o governo do Irã é acusado por promotores argentinos de ter apoiado o atentado na AMIA, em 1994, que matou 85 pessoas.
Até este momento, fontes dizem que o governo brasileiro não tem motivos para desconfiar das ações do novo presidente equatoriano. Logo depois de eleito, Correa foi recebido por Lula, disse querer entrar no Mercosul e estar satisfeito com a atuação de empresas brasileiras no seu país.
Ex-ministro da Fazenda do governo tampão de Alfredo Palacio, que entregará hoje o poder depois de 20 meses no poder, Correa disse que manterá a dolarização da economia do país, mas pretende adotar medidas radicais para acabar com a pobreza, a corrupção, a crise institucional e a concentração de renda que assolam o país. (Fonte: O Globo)

quarta-feira, janeiro 10

Uma nova república socialista?


O presidente reeleito da Venezuela, Hugo Chávez, tomaposse nesta quarta-feira para seu novo mandato, quevai até 2013, com promessas de uma radical revolução socialista e de nacionalizações, que já derrubaram os mercados financeiros.Animado por sua tranquila vitória eleitoral dedezembro, o líder antiamericano vem flertando audaciosamente com as polêmicas: recusou-se a renovara concessão de uma rede de TV oposicionista e prometeuassumir o controle de empresas importantes, algumasdas quais de capital estrangeiro."Estamos avançando para uma república socialista da Venezuela", disse Chávezna segunda-feira, quando anunciou políticas como o fimda autonomia do Banco Central e um pedido ao Congressopara que o presidente tenha poderes legislativosespeciais.Os mercados financeiros reagiram à guinada de Chávezainda mais à esquerda. A Bolsa perdeu quase um quintodo seu valor na terça-feira, os títulos da dívidacaíram a seu menor valor em seis semanas, e a moedalocal foi vendida a quase o dobro da taxa oficial.A oposição acusa Chávez, no poder desde 1999, detentar transformar o país, grande exportador depetróleo, em uma economia centralizada, ao estilocubano.Reeleito com 63 por cento dos votos em dezembro, opresidente estimulou ainda mais as comparações comFidel Castro ao anunciar a formação de um partidoúnico para apoiá-lo, embora declare que sempre vaitolerar a oposição.Chávez já controla o Parlamento e o Judiciário, eafirma que apenas seus seguidores devem ser admitidosno Exército e na estatal petrolífera PDVSA. A mídia ea infra-estrutura, seus novos alvos, são dois setoresque poderiam completar seu controle sobre o Estado.O presidente diz necessitar de mais poderes parasalvar a Venezuela da exploração e mesmo de um ataquede países capitalistas, especialmente os EstadosUnidos.Ainda não se sabe se o governo pretende assumir ocontrole de 51 por cento das empresas energéticas ouestatizá-las totalmente. Entre as empresasestrangeiras ameaçadas pela decisão estão Chevron,Exxon Mobil, ConocoPhillips, Statoil e Total.Chávez já confiscou enormes fazendas de pecuária,algumas de propriedade estrangeira, para distribuirterras aos pobres."Ele está falando como o mestre da Venezuela, tentandoguiar a Venezuela para a escuridão", disse o líderoposicionista Manuel Rosales.Já o chanceler Nicolás Maduro defendeu os planos deChávez. "Esta é uma missão de resgate para a soberaniada Venezuela."