quinta-feira, janeiro 18

OS RUMOS DO MERCOSUL

Por Julio César Villaverde
RIO DE JANEIRO (Reuters)
O estremecido Mercosul enfrenta nesta semana importantes desafios para fazer frente a persistentes ameaças à sua unidade e ao caminho traçado quando começou a funcionar, há mais de uma década.Diferenças entre dois sócios levadas ao tribunal de Haia, medidas polêmicas anunciadas por seu membro mais recente e questionado, a Venezuela, e o possível ingresso da Bolívia como membro pleno são alguns dos desafios.A estas dificuldades soma-se a batalha do presidente venezuelano, Hugo Chávez, para dar um perfil mais ideológico ao Mercosul --que seria reforçado com a chegada de seu colega boliviano, Evo Morales--, e o crescente desencanto do Paraguai e do Uruguai, os menores membros do bloco.Ao Brasil, como sócio maior, caberia a responsabilidade de lidar com tais conflitos e exercer sua liderança natural para proteger a união aduaneira, algo que inclusive lhe foi pedido pelo Uruguai."Realmente o estado de ânimo do Mercosul tem sido um pouco beligerante nos últimos dias", disse à Reuters o diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, ao ressaltar esses antecedentes.O bloco --que é composto por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela-- realizará uma reunião de cúpula na sexta-feira, em um luxuoso hotel do Rio de Janeiro, na qual poderão ser abordados os desafios aos rumos da união aduaneira, estabelecida em janeiro de 1995.O encontro será precedido na quinta-feira por uma reunião para a qual, além dos chefes de governo do Mercosul, foram convidados os dos países associados --Bolívia, Chile, Equador, Colômbia e Peru--, e do Panamá, Suriname e Guiana.
BLOCO ECONÔMICO OU IDEOLÓGICO?
Na quinta-feira, também se reunirão os ministros de Relações Exteriores e de Economia do Mercosul, que, segundo a agenda, discutirão medidas para aliviar os efeitos negativos das assimetrias dos sócios, que afetam, sobretudo, Paraguai e Uruguai.Os dois países se mostraram descontentes com o bloco e insinuaram que poderiam abandoná-lo se lhes fosse permitido firmar acordos de comércio extra-regionais, algo vedado pelo bloco.A reunião ministerial, no marco do chamado Conselho do Mercado Comum (CMC), também analisará uma carta de Morales propondo que a Bolívia integre o bloco como membro pleno.A aceitação ao pedido de Morales, um amigo e sócio de Chávez, aumentaria a influência do líder venezuelano, que tomou posse para um terceiro mandato na semana passada prometendo levar seu país ao socialismo, inclusive com a entrega de sua vida.Também se espera que outro socialista declarado e amigo de Chávez, o novo mandatário do Equador, Rafael Correa, peça o ingresso de seu país como membro pleno do Mercosul.Para alguns analistas, esses não são bons ventos para o bloco e desafiam em particular a Lula, que segue uma linha de centro-esquerda que equilibra uma política econômica ortodoxa com medidas de ajuda aos mais pobres."A entrada da Venezuela no Mercosul (em julho), se for analisada economicamente, é bem-vinda. Politicamente é que se gera uma certa insegurança", disse Castro."Meu receio é que o Mercosul seja transformado em um bloco ideológico e não econômico... a eventual vinda do Equador e da Bolívia neste momento seria ideológica e não econômica", acrescentou.Para ele, o Brasil, como líder regional, deve dar o exemplo e tomar decisões dizendo "exatamente se o Mercosul é um bloco econômico, um bloco político ou um bloco ideológico", complementou.
IRMÃOS EM LITÍGIO Além disso, a reunião de cúpula verá a Argentina e o Uruguai em litígio na Corte Internacional de Haia pela construção de uma fábrica de celulose em território uruguaio, sobre o limítrofe rio Uruguai, que enfrenta resistência argentina por seu possível efeito negativo sobre o meio ambiente.Pouco antes da reunião, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, deixou em evidência a tensão das relações, inédita para países vizinhos e com uma raiz histórica comum."Encontrar-nos, nós vamos, porque estaremos no mesmo ambiente. Não está marcado nenhum encontro bilateral", disse friamente Vázquez sobre uma eventual reunião no Rio de Janeiro com seu colega argentino Néstor Kirchner.O Mercosul e o próprio Brasil se mostraram omissos no caso, expondo limitações no sistema jurídico do bloco e na liderança do maior sócio.O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse recentemente que seu país se absteria de fazer uma mediação entre Argentina e Uruguai, indicando que "devem falar (entre) eles" para buscar uma solução às suas diferenças.
[meu comentário]Na verdade existe um outro dado que deixa essa reportagem com um certo receio do novo mercosul. Um dos assuntos em pauta, que não está mencionado no texto acima, é a criação do Banco Sul, o qual substituiria instituições internacionais como o FMI. Acompanhem as várias fontes sobre o assunto durante a semana.

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