sábado, dezembro 30

Por uma Filosofia latino-americana

(...) Por último queremos indicar que a filosofia, como pensar analético, sabe que surge da práxis e que o próprio pro-jeto de estar-na-verdade que torna possível a vida do filósofo não é um projeto filosófico, mas o projeto de um homem. Homem que antes de ser filósofo teve a vocação do outro como um estar-em-sua-verdade, em seu des-cobrimento. Por isso a filosofia na América Latina é latino-americana, embora quase todos a neguem. Porque aquele que, na América Latina, pensa filosoficamente (se não for um sofista ou acadêmico irreal) sabe que sua teoria emerge da práxis latino-americana, de seu mundo histórico e cotidiano. Sabe que seu projeto filosófico latino-americano é distinto do europeu. A filosofia latino-americana como tarefa de um homem, como um pensar que pensa a realidade da libertação, é específica para cada horizonte cultural. É possível que a Europa, por suas exigências existenciais e históricas presentes, exija do filósofo e lhe atribua a vocação de pensar o técnico, o lúdico, ou o artístico. É possível que a América Latina atribua ao filósofo, como vocação de quem é oprimido, como projeto humano total, pensar o político, a libertação, porque o político é relação homem-homem e o homem latino-americano vive prostrado sob a dominação política, econômica, cultural, humana. O processo do crescimento do homem latino-americano significa supressão, aniquilação das determinações negantes: trata-se de um movimento de libertação, um libertar no homem seu ser negado. Este processo que precisa acontecer em todos os níveis da cultura, o filósofo é chamado a formulá-lo, ou as gerações futuras lançar-te-ão ao rosto essa sua inércia, essa sua culpa por escapismo. Por isso, colocando as condições de possibilidade de uma correta formulação conceitual que, após o que foi dito, já não poderá ser apenas européia, poder-se-á obter um sistema interpretativo latino-americano para realizar a mudança rápida, revolucionária, pela qual clama um povo subdesenvolvido. Este trabalho abre um caminho, sem maiores pretensões: trata-se de uma recolocação da questão dialética em Hegel, considerando seus antecedentes e suas possíveis superações para poder intentar uma formulação adequada de um concreto sistema interpretativo latino-americano da revolução libertadora da dominação que as superpotências impuseram, fazendo-nos submergir numa "cultura do silêncio". (DUSSEL, 1986, p. 254).
Enrique Dussel

Um comentário:

Hugo A. Matos disse...

parou de postar? Abraço