terça-feira, fevereiro 8

Conhece-te a ti mesmo!


Atendendo a esse tão nobre e complexo apelo socrático me lanço nesse ensaio a uma breve analise intimista destas três décadas trilhadas. Encontro nestas trilhas algumas verdades sobre minha pessoa, porém passíveis de serem contestadas por mim mesmo a qualquer momento. O signo da liberdade talvez tenha sido o estigma que mais me fez companhia ao longo destes trinta anos, fazendo com que me descobrisse como uma espécie de projeto de espírito livre, assim como já dizia nosso tão estimado pensador – Friedrich Nietzsche. Espírito livre porque me coloco perante a vida como exceção aos espíritos cativos, que são a regra.

Contudo toda leveza carrega seu peso! No que tange as relações humanas, posso até amar, ainda que precariamente, as pessoas de modo particular. Mas carrego o imperativo existencial de amar, antes de tudo, a humanidade – o que é o abstrato. Nisso não me arrogo de nenhum heroísmo, me é um profundo traço indelével, inato, percebido, paradoxalmente, através de um complexo processo empírico da minha existência. Por isso amar exclusivamente o único, o individual, pode me levar, em algum momento, ao sentimento real de trair a humanidade.

Os sentimentos, em especial a paixão, indubitavelmente, vivificam o homem, não importa a forma com que se manifesta, mas sim que não tenha medidas, carregando consigo nosso bem mais precioso: a intensidade. Contudo esse amor intenso se apresenta prá mim nos objetivos universais, nunca o particular. É bem provável que nossos contemporâneos estudiosos que se debruçam sobre a psique humana me rotulem com alguma etiqueta psiquiátrica de transtorno comportamental, é moda nesses dias em que habito. O fato é que até hoje não encontrei uma maneira de servir ao abstrato e ao particular ao mesmo tempo.

A condição que provoca o amor particular me parece honrosa e digna de homens e mulheres virtuosos, e para esses dá sentido a toda uma vida, mas não para mim. Se tivesse duas vidas uma ofereceria ao amor particular e outra para o amor à humanidade, mas não creio nessa possibilidade. Viver não é uma experiência laboratorial onde possa voltar atrás nas minhas escolhas, é impossível saber se as escolhas que fiz é certa ou não, pois não tenho duas vidas pra testar e saber ao final qual delas foi a melhor.

Se duas amplas trilhas partem da estrada da vida, e só uma pode ser palmilhada, quem pode dizer qual a melhor? É por isso que defendo a ideia do fazer. Fazer o que se tem que fazer, o que se sente vontade de fazer, fazer o que dá prazer, o que desgasta, enfim, fazer. Por que? Porque aquele que não faz, vive no mundo do "se" e não aproveita o rascunho definitivo que temos. O “se” sempre será outro acaso, e não vem ao caso. O que não é efeito de uma escolha não pode ser considerado como mérito ou como fracasso.

Essa sucessão de acasos ou “destino” é o que faz da minha vida ser imprevisível e ao mesmo tempo "improjetável". Além de não possuir parâmetros ainda tenho o acaso, que independe completamente da minha vontade, é algo exterior a minha alçada. Ou seja, resultante de tudo isso, a minha vida adquiriu, ao longo desses trintas anos, uma leveza, marcada por sacrifícios e ao mesmo tempo tão infinitamente misteriosa e maravilhosa que fica difícil de chegar a uma conclusão. Em suma, reafirmo que ainda insistirei em viver na minha verdade: Esse amor incondicional a humanidade!

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