Atribui-se a muitos a paternidade de Pã. Evidentemente que foi mencionado também o irrequieto Zeus, mas até hoje ninguém sabe ao certo se foi ele. A verdade parece ser que Pã foi desprezado pelo pai por ser tão feio: mal feito e peludo, tinha chifres, barba, cauda e pés de cabra. Os outros deuses afastavam-se dele por causa do seu aspecto físico e não o consideravam um dos seus, embora pelo nascimento ele talvez fosse um deus e, segundo alguns, ainda mais antigo do que os velhos Titãs.
Pã não parecia importar-se muito, porque era um ser simples e sem ambições. Não aspirava às alturas do Olimpo e gostava de viver com os mortais na Arcádia, rio centro da Grécia do Sul. Esta era uma terra de largas planícies, entremeada de bosques e florestas. A norte existiam altas montanhas, onde Pã vivia a vida de pastor e guardador de gado, cuidando das suas ovelhas, cabras e abelhas. À noite juntava-se dom entusiasmo às festas das ninfas dos bosques e das colinas. Nessa altura tornava-se um pouco selvagem. Gostava imenso de se esconder entre as árvores quando passava um estranho, e assustá-lo com um grito repentino.
Pã pretendeu muitas ninfas, entre elas Sírinx, que fugiu horrorizada para as margens do rio Laden e se transformou em cana para lhe escapar. Incapaz de a distinguir entre tantas canas, Pã cortou um molho delas e fez as flautas com que ainda hoje o vemos.
Só quando a sua grande habilidade como flautista foi conhecida é que os deuses levaram Pã ao Olimpo por uns tempos para lhes ensinar a sua arte. Mas depressa percebeu pelos olhares de troça que não o chamavam senão por isso, e voltou outra vez à Arcádia e à sua vida anterior.
A história do deus Dioniso contrasta totalmente com a do modesto Pã. É uma história de loucuras, roubos e pilhagens, de um deus movido por forças que não conseguia controlar.
Zeus era pai de Dioniso, e a mãe era Sémele, filha do rei de Tiro. A ciumenta mulher de Zeus, Hera, destruiu Sémele com um raie, mas a titã Reia salvou o bebe e entregou-o aos cuidados do rei Átamas, de Tebas, c da sua mulher Ino. Para maior precaução, Dioniso andou sempre disfarçado de rapariga enquanto esteve com eles.
Apesar disso, Hera descobriu o seu paradeiro e enlouqueceu o casal, de forma que, num acesso de fúria, mataram o seu próprio filho,
Dioniso ainda não tinha sofrido nada, mas por ordem de Zeus, Hermes foi rapidamente a Tebas e transformou o rapaz numa cabra, para o esconder melhor. Depois Hermes levou Dioniso durante a noite para o monte Nise, onde as ninfas tomaram conta dele. Dioniso voltou à sua forma humana, mas ficaram-lhe para o resto da vida dois pequenos chifres, como os de um cabrito. Foi enquanto viveu na montanha que ele cultivou a primeira vide e fez uma vinha nas vertentes escarpadas do Sul. Plantava vides em todos os sítios para onde ia, e ficou conhecido como o deus do vinho.
Durante algum tempo tudo parecia correr bem, mas Hera não desistiu de procurar o rapaz e, por fim, encontrou-o. Sem a menor piedade, transtornou-lhe o cérebro, tal como tinha feito com Átamas e Ino, e ele ficou doido.
Dioniso rejeitou então todas as ninfas gentis que tinham tratado dele com tanto cuidado, e escolheu para companheiros os sátiros brutos e sem regras, guiados por Sileno e pelas Ménades As ménades eram mulheres selvagens, com os olhos brilhantes de maldade. Vestidas com peles de animais e armadas de espadas e serpentes, eram horríveis de ver e destruíam tudo o que lhes aparecesse pela frente.
Com o seu estranho bando, o jovem deus vagueou pelos mares, dando batalha e matando sem piedade todo aquele que se atravessasse no seu caminho. Primeiro visitou o Egito, onde as Amazonas se juntaram a ele para devolver o trono ao rei Ámon. Depois seguiu-se uma longa viagem por terra até à índia, onde se deram muitas batalhas sangrentas até toda a terra ser dominada. No Oriente, Dioniso viu muitas paisagens, costumes e animais desconhecidos nesse tempo na terra do seu nascimento, e levou com ele para a Europa os primeiros elefantes, que fizeram a admiração dos Ocidentais.
No regresso de Dioniso, Reia desafiou Hera e tentou livrar o rapaz da loucura, mas parece que era demasiado tarde. Apesar de um pouco mudado, Dioniso não desistiu do seu grupo de sátiros e de Ménades e da vida que faziam juntos. Tinha-se habituado à sua vocação comum, o amor da rebeldia e a vida selvagem, e ao vinho das vides que plantara e tratara.
Dioniso e o seu estranho exército, embora vivendo a combater, nem sempre ganhavam.
Licurgo derrotou-os completamente quando eles invadiram a Trácia, e embora Reia enlouquecesse Licurgo para salvar Dioniso, este apenas escapou à morte atirando-se ao mar, onde a ninfa Tétis o escondeu até passar o perigo.
De maneira mais pacífica, o deus do vinho e os companheiros visitaram Tebas, a principal cidade da Beócia, que fica a alguns dias de viagem a norte de Atenas, As pessoas eram calmas e reservadas, e embora tivessem tentado ser amigos ficaram ofendidos com o comportamento dos sátiros e das Ménades meio embriagados. O povo não viu com bons olhos as danças selvagens que duraram toda a noite na vertente do monte Citéron, por cima da cidade e ninguém pôde dormir por causa da música.
O rei de Tebas sabia que a um deus eram devidas certas liberdades, mas o seu povo sofrera bastante, pelo que mandou prender Dioniso e o seu bando. Mas antes que a ordem fosse executada, Dioniso enlouqueceu-o. Então os sátiros escaparam-se e alvoroçaram, pilharam e mataram por todo o país.
Deixando a Beócia numa confusão, Dioniso navegou para as ilhas Egeias. Dirigiu um navio a Naxos e esteve alguns dias no mar, quando a tripulação, duvidosa da sua identidade, o amarrou ao mastro. Depois voltaram o navio para o porto de Prine, na Ásia Menor, onde tencionavam vendê-lo como escravo.
Depressa viram que tinham cometido um erro, porque Dioniso partiu facilmente as cordas. Ficou uns momentos na sua frente, e começou a aumentar de tamanho. De repente, transformou-se num leão. Um rugido que parecia de mil animais ferozes encheu o ar. Nasceram vides na tolda e entrelaçaram-se nos cordames, e o navio estremeceu como que batido por uma enorme vaga.
Os marinheiros ficaram petrificados e pálidos de susto. Depois, todos à uma, atiraram-se ao mar. E transformaram-se em delfins, nadando por entre as cristas das ondas.
Voltando novamente ao barco, Dioniso navegou mais unia vez para a ilha de Naxos. Ali conheceu e casou com a filha de um rei e, talvez por influência dela, terminou os seus dias mais feliz do que tinha começado. Com o tempo conseguiu libertar a mãe do Mundo Inferior, mudando-lhe o nome de Sémele para Tione, para que Hera não soubesse. Semelhante amor para com os outros era novo em Dioniso e mostrava que a sua vida de maldades terminara.